segunda-feira, 23 de abril de 2012

Viajantes do tempo

Somos feitos de vazios, de partículas do tempo e do espaço infinito onde tudo cabe. Estamos todos quase achados numa rede que se amplia. Mas o universo une tudo: o passado, o futuro e a fruição. Perderemos a noção do tempo ao embarcarmos na viagem sobre a linha do equador. Quando formos em direção ao ocidente, estaremos antecipando o Futuro. E na volta para o oriente, olhamos o Passado imediato e ao pararmos o Futuro nos alcançará... Diante dos dois sentidos possíveis nesse roteiro, o Passado e o Futuro hesitamos nas escolhas. Embora estejam em sentidos opostos, tanto o Passado quanto o Futuro encontram uma infinidade de pontos em comum, que são as conexões que fazem com o Presente. Voar já não é apenas dominar o espaço, mas também os três tempos – ambos disponíveis no cardápio da humanidade. A dúvida recai sempre na sobremesa, ou seja, o que deixaremos para depois? Os ritmos? Tudo tem um ritmo – até o mais absoluto silêncio do espaço sideral. Calma! Não é preciso correr! Pelo menos, não demais – o suficiente já é o bastante. Além do mais, "tudo tem o seu tempo", lemos isso em algum lugar. Ultimamente temos andado mais devagar para observar melhor o que passa ao nosso redor, e o que anda a nos espreitar de fora para dentro. E com isso aprendemos a sorver o tempo presente. Nessa viagem é possível também administrarmos a duração dos dias. Os dias longos e curtos variam de acordo com a aceleração e desaceleração da “nave” que faz esse percurso sobre a linha perpendicular ao eixo da Terra. E, atingindo uma determinada velocidade, viajaríamos no escuro ou no claro indefinidamente... mas também podemos ser o que por aqui se chamam de Estacionários. Os Estacionários são aqueles que circulam à velocidade de fazer parar o tempo, são adeptos de uma única fase: Há os Noturnos, os Diurnos, os Ocasianos e os do Amanhecer! Cada um com um olhar diferente sobre a realidade, de acordo com a quantidade e a posição da fonte de luz que recebem e que são capazes de perceber. Nessa viagem corremos ao encontro do futuro? Nem sempre - no sentido oposto corremos dele, pois se pararmos muito tempo ele nos encontra, antes mesmo de termos percorrido a nossa estrada... Precisamos dar uma reviravolta para reencontrar alguns caminhos que não havíamos nem pensado existir tamanha a velocidade que estávamos... assim fica até difícil ver as encruzilhadas "quase" perdidas! Numa dessas encruzilhadas que dão novo sentido ao tempo, vemos o nosso futuro chegar devagar e a nos contar coisas incompreensíveis de imediato! É como se já soubéssemos o que nos espera ao final dos caminhos e dos rumos que escolhemos tomar. Mas não. O tempo vivido e por viver sempre nos reserva surpresas, às vezes o que nos surpreende é uma nova interpretação sobre o que já foi visto, ou ainda, o que nem foi percebido da primeira vez que passamos por ali. Vemos o mapa das emoções que nos mostra a linha do equador na vertical. Nele os povos estão em pé de igualdade e os dois hemisférios andam em paralelo. São dois hemisférios e duas calotas polares no eixo que roda o carretel redondo – ou seria um novelo? No desenrolar dessa estrada ou desse fio entrelaçado, habitam uma nave quase perfeita - os dois condutores lado a lado: de um lado o Sr. Destino, do outro: Você. Então é Você que determina o rumo e o Sr. Destino, que só enxerga as circunstâncias ao redor, dá as dicas para a revisão do roteiro escolhido – que você não dá a mínima importância a elas, pois nem é capaz de vê-las. Depois de “certo” tempo (indefinido!) resolveram trocar de lugar. O Sr. Destino passou a comandar o rumo e Você, que já não via as circunstâncias, aceita a substituição, por estar cansada de ouvir as recomendações do Sr. Destino. Ambos ansiosos por chegar a algum lugar do Passado ou do Futuro, descuidaram em olhar a quantidade de combustível da nave. Tanque vazio. Precisavam parar! O Presente é uma Estação no Tempo de conexões. Uma estação alcançável em qualquer lugar onde se possa estacionar. É ali onde paramos um pouco para (re)encontrar uns amigos, recarregarmos de energia e seguimos viagem, em seguida... porque não somos estacionários duradouros... Na Estação do Presente, onde nos encontramos, existem duas grandes alas que nos liga ao passado e ao futuro. Na plataforma que mira o futuro é uma ala de despedidas, ou seja: o embarque das pessoas que alcançaram a maturidade e que vão discutir novos conceitos a caminho da Estação do Entardecer. E a plataforma voltada para o passado é o local do desembarque, da chegada de pessoas cheias de juventude, que são sempre acolhidas com alegria e que vem de antigos caminhos já bem conhecidos. Na "Estação do Presente", onde o infante futuro nos alcança e o velho passado nos vai deixando, é onde encontramos um grande número de pessoas, mas elas ficam muito pouco tempo por ali, pois seguem dali para o Amanhecer ou para o Entardecer. O tempo também é uma viagem. Vemos o “comboio do tempo” passar pela nossa estação. Se não temos um rumo, por ali ficamos... Quando estacionamos no “Presente”, observamos que as crianças preferem a Estação do Amanhecer... pois ela tem o poder de nos encher os olhos de esperança e de beleza, com sua luz suave e acaricia a nossa pele com sua brisa de um confortável calor, mas é tão barulhenta que também nos assusta! Já a Estação do Entardecer é igualmente bela, e está repleta de pessoas maduras: os Ocasianos, que são sábios e experientes e que sempre estão a promover Tertúlias, Ciclo de Palestras e Conferências Internacionais. Ali é lugar ideal para uma boa conversa, para aprofundar os conhecimentos sobre o mundo, mas o frio que por ali circula é um tanto desconfortável para nos deixar ficar por longo tempo, embora funcione o ar condicionado e todas as tecnologias estejam ao nosso alcance. Os lugares não são pontos de chegada ou partida... são apenas referências espaciais. Os lugares servem para nos posicionarmos no mapa e verificarmos para onde estamos indo e o rumo que tomamos. O rumo – esse sim – é o objetivo principal da viagem! Fomos para o Oriente, ou seja, em direção ao passado! Nessa viagem de poucos segundos pudemos ver a África e o surgimento do ser humano na Terra. Vimos também a Austrália e sobrevoamos a América do Sul, onde antigamente havia uma extensa e maravilhosa floresta, a Amazônia. Tomando esse rumo é isso que pode ser visto! Em busca do Amanhecer ou da noite! Qualquer desvio é atraso ou avanço... como quiser, dependendo do rumo que Você escolheu, ou quem escolhe agora é o Sr. Destino? De volta para o ocidente, avançamos a uma velocidade maior. Viajamos para outros tempos, mas não conseguimos sair de casa. Tomamos o rumo certo? Será esse mesmo o nosso Futuro? Rosa Maria Alves Pereira Lisboa – novembro de 2010.